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Algumas
vezes na vida você vai ouvir isto, e talvez não seja tão convincente assim...
Você foi contratado! No primeiro dia
você lê a Política Interna da Empresa, enquanto lhe passam as atividades que
você desenvolverá em seus dias de labuta naquela conceituada empresa. Você
balança a cabeça e concorda com toda a política, principalmente naquela hora em
que você lê o parágrafo II, que diz: “O colaborador que não usar sapatos
sociais pretos no seu ambiente de trabalho, poderá ser advertido verbalmente, e
isto sendo reincidente, será advertido por escrito.” Onde está escrito na NBR
em Segurança e Saúde do Trabalho que é obrigatório o uso de sapatos sociais
pretos? Não, não existe norma para isto. Mas a empresa, “preocupada” com a
padronização de seus funcionários, lhe “obriga” a se vestir desta forma. Bom,
você assina no rodapé, afinal, não será por causa de sapatos pretos que você
vai perder uma oportunidade desta, não é?!
Os dias passam, e você acredita
estar seguindo às normas da empresa. E, como um ratinho de laboratório, fica
condicionado àquilo, sem questionar. De repente, uma CI (Circular Interna): “A
partir de hoje, os colaboradores estão terminantemente proibidos de circular em
outros departamentos, caso isto aconteça, o colaborador infrator (aqui você já
se sente ofendido), será punido com uma carta de advertência por escrito, sendo
reincidente, suspensão de 1 (um) dia de trabalho”. Você assina abaixo, com um
pequeno incômodo no coração, mas não pode perder o seu emprego naquele momento.
Afinal, você fez dívidas, mudou de carro, e existem algumas dezenas de parcelas
a serem quitadas.
Dias se vão, passam-se meses, e de
repente, você que estava acostumado a dar uma “pausa” em suas atividades para
tomar um cafezinho, esticar as pernas, alongar a coluna. Se depara com outra
”CI”, que fica terminantemente proibida a “pausa” aleatória do colaborador para
ir à copa tomar um cafezinho ou fazer um lanche. Você, frustrado, mas ciente de
que não é a hora de sair daquela empresa, porque agora sua esposa está grávida,
e você não pode, em hipótese alguma, ser demitido ou pedir demissão, assina
abaixo já um pouco impaciente, e ao invés de uma assinatura com nome completo,
faz uma rubrica.
Indignado, frustrado, e agora
totalmente controlado pelas CIs e Política Interna da empresa, você procura o
seu superior direto, e o questiona. Ele, sem nenhuma empatia, blasfema a famosa
máxima de quem quer tirar o “seu” da reta: “Eu entendo, mas são normas da empresa!”
Então você decide voltar ao seu departamento, agora contando os minutos para ir
ao cafezinho, e terminando de pagar a última parcela do par de sapatos pretos
que comprou, porque o outro já estava desgastado, e se sentindo sozinho, porque
assinou aquela infeliz CI que proibia o colaborador de ir a outro setor em
horário de trabalho. Pressionado, desmotivado, sentindo-se enclausurado, você
planeja-se para fazer uma recolocação profissional, e infelizmente, deixa a
empresa.
Quantas histórias não conhecemos de
situações como esta? Os líderes e gestores de empresa precisam entender que
normas, regras, políticas internas, circulares internas, precisam ser
utilizadas na medida certa, de forma equilibrada. Além do mais, decretar algo
sem a conscientização e colaboração de seus funcionários, para eles, soa como
um ato arbitrário. Fica a pergunta: “Por que antes podia, e agora não pode?” Se
o líder solta demais, ele perde o controle de sua equipe. Mas se ele aperta
demais, ele perde sua equipe. É preciso utilizar a inteligência emocional para contornar
uma adversidade organizacional sem criar outros problemas. Elenquei 5 tópicos a
serem analisados antes de definir uma mudança na estrutura, cultura ou
atividade da empresa:
1.
Agende uma reunião: Ao
enviar a pauta do que será tratado, solicite sugestões e soluções por parte de
seus colaboradores. Isso dará empoderamento a eles, e a certeza de que são
importantes na tomada de decisão da organização.
2.
Apresente as dificuldades: Na reunião, já de posse de algumas sugestões, apresente as
dificuldades encontradas no funcionamento da organização, e o que levou você e
os demais gestores a tomar esta decisão. Deixe claro de que não é nada pessoal,
e que esses ajustes são parte de meses de estudos e pesquisas na otimização da
produtividade da empresa, se isso for o caso, claro!
3.
Ouça atentamente: Não
ignore nenhuma ideia, considere todas, pondere, agradeça a participação de
todos, e escolha as mais assertivas ao momento, e deixe claro o que irá
acontecer com base nas decisões tomadas.
4.
Defina datas:
Para que o seu colaborador não seja pego de surpresa, informe a partir de qual
data entrará em vigor aquela decisão, seja ela qual for. Sendo assim, o
colaborador terá um tempo para se organizar e avaliar da melhor forma possível
sua decisão.
5.
Peça feedback: Por
fim, ao definir a data de início das mudanças, pergunte aos seus colaboradores
se eles estão de acordo, se há alguma dificuldade para seguir aquela norma, e
se eles estão cientes de que será para o melhor funcionamento da organização.
Seja sincero, transparente e objetivo.
Como vimos, não há regras que encontrem 100% de aceitação
por parte dos liderados, mas se formos empáticos e responsáveis por aquela
tomada de decisão, sem agir arbitrariamente, tenho certeza de que não teremos
muitos problemas futuros. Porque o liderado sabe que caso surja alguma
dificuldade no cumprimento, ele poderá procurar você sem ressalvas, e sanar as
dúvidas.
Gerir
pessoas é um ato de coragem e responsabilidade, porque diferentemente de
recursos materiais, que podemos nos desfazer quando encontramos alguma avaria;
na gestão de talentos precisamos fazer a diferença. Estudar minuciosamente a
necessidade de cada talento, potencializar suas habilidades, diminuir suas
deficiências, e darmos as ferramentas essenciais para que o colaborador seja
eficaz e busque perenidade no exercício de sua profissão na empresa.
Você,
líder, está disposto a reter seu talento? Descomplique!
Você,
profissional, está disposto a ser mais eficaz? Resolva!
Encerro com a máxima do poeta Caetano: “Cada um sabe a dor
e a alegria de ser o que é!”
Autor: Leniclécio Miguel