sábado, 21 de novembro de 2015

“... EU ENTENDO, MAS É QUE SÃO NORMAS DA EMPRESA!”



*Invista 5 minutos de seu tempo na leitura deste artigo:




Algumas vezes na vida você vai ouvir isto, e talvez não seja tão convincente assim...

            Você foi contratado! No primeiro dia você lê a Política Interna da Empresa, enquanto lhe passam as atividades que você desenvolverá em seus dias de labuta naquela conceituada empresa. Você balança a cabeça e concorda com toda a política, principalmente naquela hora em que você lê o parágrafo II, que diz: “O colaborador que não usar sapatos sociais pretos no seu ambiente de trabalho, poderá ser advertido verbalmente, e isto sendo reincidente, será advertido por escrito.” Onde está escrito na NBR em Segurança e Saúde do Trabalho que é obrigatório o uso de sapatos sociais pretos? Não, não existe norma para isto. Mas a empresa, “preocupada” com a padronização de seus funcionários, lhe “obriga” a se vestir desta forma. Bom, você assina no rodapé, afinal, não será por causa de sapatos pretos que você vai perder uma oportunidade desta, não é?!

            Os dias passam, e você acredita estar seguindo às normas da empresa. E, como um ratinho de laboratório, fica condicionado àquilo, sem questionar. De repente, uma CI (Circular Interna): “A partir de hoje, os colaboradores estão terminantemente proibidos de circular em outros departamentos, caso isto aconteça, o colaborador infrator (aqui você já se sente ofendido), será punido com uma carta de advertência por escrito, sendo reincidente, suspensão de 1 (um) dia de trabalho”. Você assina abaixo, com um pequeno incômodo no coração, mas não pode perder o seu emprego naquele momento. Afinal, você fez dívidas, mudou de carro, e existem algumas dezenas de parcelas a serem quitadas.

            Dias se vão, passam-se meses, e de repente, você que estava acostumado a dar uma “pausa” em suas atividades para tomar um cafezinho, esticar as pernas, alongar a coluna. Se depara com outra ”CI”, que fica terminantemente proibida a “pausa” aleatória do colaborador para ir à copa tomar um cafezinho ou fazer um lanche. Você, frustrado, mas ciente de que não é a hora de sair daquela empresa, porque agora sua esposa está grávida, e você não pode, em hipótese alguma, ser demitido ou pedir demissão, assina abaixo já um pouco impaciente, e ao invés de uma assinatura com nome completo, faz uma rubrica. 

            Indignado, frustrado, e agora totalmente controlado pelas CIs e Política Interna da empresa, você procura o seu superior direto, e o questiona. Ele, sem nenhuma empatia, blasfema a famosa máxima de quem quer tirar o “seu” da reta: “Eu entendo, mas são normas da empresa!” Então você decide voltar ao seu departamento, agora contando os minutos para ir ao cafezinho, e terminando de pagar a última parcela do par de sapatos pretos que comprou, porque o outro já estava desgastado, e se sentindo sozinho, porque assinou aquela infeliz CI que proibia o colaborador de ir a outro setor em horário de trabalho. Pressionado, desmotivado, sentindo-se enclausurado, você planeja-se para fazer uma recolocação profissional, e infelizmente, deixa a empresa.
           
            Quantas histórias não conhecemos de situações como esta? Os líderes e gestores de empresa precisam entender que normas, regras, políticas internas, circulares internas, precisam ser utilizadas na medida certa, de forma equilibrada. Além do mais, decretar algo sem a conscientização e colaboração de seus funcionários, para eles, soa como um ato arbitrário. Fica a pergunta: “Por que antes podia, e agora não pode?” Se o líder solta demais, ele perde o controle de sua equipe. Mas se ele aperta demais, ele perde sua equipe. É preciso utilizar a inteligência emocional para contornar uma adversidade organizacional sem criar outros problemas. Elenquei 5 tópicos a serem analisados antes de definir uma mudança na estrutura, cultura ou atividade da empresa:



1.    Agende uma reunião: Ao enviar a pauta do que será tratado, solicite sugestões e soluções por parte de seus colaboradores. Isso dará empoderamento a eles, e a certeza de que são importantes na tomada de decisão da organização.

2.    Apresente as dificuldades: Na reunião, já de posse de algumas sugestões, apresente as dificuldades encontradas no funcionamento da organização, e o que levou você e os demais gestores a tomar esta decisão. Deixe claro de que não é nada pessoal, e que esses ajustes são parte de meses de estudos e pesquisas na otimização da produtividade da empresa, se isso for o caso, claro!

3.    Ouça atentamente: Não ignore nenhuma ideia, considere todas, pondere, agradeça a participação de todos, e escolha as mais assertivas ao momento, e deixe claro o que irá acontecer com base nas decisões tomadas.

4.    Defina datas: Para que o seu colaborador não seja pego de surpresa, informe a partir de qual data entrará em vigor aquela decisão, seja ela qual for. Sendo assim, o colaborador terá um tempo para se organizar e avaliar da melhor forma possível sua decisão.

5.    Peça feedback: Por fim, ao definir a data de início das mudanças, pergunte aos seus colaboradores se eles estão de acordo, se há alguma dificuldade para seguir aquela norma, e se eles estão cientes de que será para o melhor funcionamento da organização. Seja sincero, transparente e objetivo.


Como vimos, não há regras que encontrem 100% de aceitação por parte dos liderados, mas se formos empáticos e responsáveis por aquela tomada de decisão, sem agir arbitrariamente, tenho certeza de que não teremos muitos problemas futuros. Porque o liderado sabe que caso surja alguma dificuldade no cumprimento, ele poderá procurar você sem ressalvas, e sanar as dúvidas. 

            Gerir pessoas é um ato de coragem e responsabilidade, porque diferentemente de recursos materiais, que podemos nos desfazer quando encontramos alguma avaria; na gestão de talentos precisamos fazer a diferença. Estudar minuciosamente a necessidade de cada talento, potencializar suas habilidades, diminuir suas deficiências, e darmos as ferramentas essenciais para que o colaborador seja eficaz e busque perenidade no exercício de sua profissão na empresa.

            Você, líder, está disposto a reter seu talento? Descomplique!

            Você, profissional, está disposto a ser mais eficaz? Resolva!

Encerro com a máxima do poeta Caetano: “Cada um sabe a dor e a alegria de ser o que é!”

Autor: Leniclécio Miguel

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

DEPOIS DOS 30...



Depois dos 30 você descobre que não consegue mais viver sozinho. Que falta algo, mas não é sexo. Falta alguém ali, naquele lugar, no canto do sofá, te olhando eternamente. Falta uma xícara de chá entregue pelas mãos de quem te acordou. Um “boa noite” de madrugada, depois de uma longa jornada de séries na tv. Depois dos 30 ficamos mais seletivos, não vamos a todas as baladas, não frequentamos todos os lugares, não beijamos desesperadamente. Queremos somente a companhia de quem quer a da gente. Sem exigências, sem falsidades... Qua-li-ta-ti-va-men-te.


O barulho na casa do vizinho incomoda mais, porque é justo na hora em que você lê Clarice na companhia de sua vodca. De repente o barulho se vai, e você prefere ficar ali, deleitando-se com aquelas palavras efêmeras de quem não tem muito tempo para guardá-las. Sinal de que você não se preocupa mais em “decorar” frases de efeito, apenas dá a si uma oportunidade de tecer o sentimento para dentro, de guardar o tear, e mostrar o bordado.


Você se tornou musicalmente eclético e aberto, não existem mais rótulos, e todas as músicas são bem-vindas, aliás, quase todas. Do clássico ao brega, sem se preocupar com a crítica. Apenas sentindo a necessidade de sorrir ao ouvir, ou chorar, porque é mais fácil. E se desfaz de alguns discos, algumas pastas no computador. Muda a fé, refaz o caminho de sua crença, e aceita a religião do outro como ela é, sem pestanejar. Se envolve menos em debates, porque já está cansado de tanta fugacidade. E continua a vida, sem réplica, tréplica.... Desarmado.


Descobre também que o sexo é importante, quando feito com respeito e higiene, sem essas aberrações mundanas. Porque depois de muitas noites de encontros furtivos, prefere estar à luz do dia, de cara limpa e alma lavada. Sem esconder, mas sem sentir a necessidade de se expor. Somente ciente de tudo, daquilo que se quer, e do que não se quer, principalmente. E coloca a cara no sol, e vai viver.


Se antes os amigos eram muitos, hoje estão resumidos. Depois dos 30 você já não tem tanta paciência para piadas sem graça, hipocrisias e sorrisos falsos à beira de uma mesa, cercado de pessoas que você conheceu naquela noite, e que contam vantagens de suas vidas a todo tempo, em rodadas de bebidas e demagogias, sem cessar. O dinheiro é importante, e você luta diariamente por ele, mas não é seu dono. Não é medida de felicidade. Não é razão de uma amizade verdadeira, e você sabe disso, e não se mistura.


Depois dos 30 você já deve ter perdido algum amigo de infância, ou um amigo mais velho. Seus avôs estão velhinhos, ou quem sabe já se foram. Você percebe que seus pais estão envelhecendo, e toda vez que os visita, a vontade que tem é de ficar lá e parar o tempo, ou voltar o tempo, quem sabe.  E olha suas fotos de criança, e percebe que também envelheceu, e olha em torno da mesa da casa de seus pais, e relembra daquele tempo de pouca coisa, mas muito sentimento.


E não se preocupa em repetir roupas, comprar o mesmo perfume, assistir The Century Of Self um trilhão de vezes. Vira frequentador assíduo das livrarias da cidade, toma café com a mesma amiga todas as quintas, e caminha todas as terças com o seu cachorro. Aliás, essa rotina é que lhe salva da insanidade que é viver sozinho. E descobre que nunca mais vai amar como já amou, porque os sentimentos de hoje não suplantam os de outrora. E aceita a dor de ver partir alguém que você tanto cuidou, mas não pode pedir para ficar.


E vai fazer Pilates porque é importante para manter sua espinha ereta e o coração tranquilo, e entra na dieta pela 432º vez somente neste ano. E procura trabalhar menos, sorrir mais, correr menos, andar mais. A palavra de ordem é equilíbrio, e você sabe disto. Já se foi o tempo de loucuras, as responsabilidades diárias não deixam mais você jogar tudo pro ar e se tornar hippie. Encontra na solidão um aconchego momentâneo, mas não desiste de encontrar uma companhia que lhe traga paz em dias tempestivos.


Depois dos 30 você quer trocar os móveis, e agora busca uma decoradora; se antes o objeto decorativo da sua sala era aquele colchão surrado, agora tem um lustre apontando para a mesa de centro que você acabou de comprar. Tem facas e garfos suficientes para chamar os amigos para jantar, e tem água gelada para um amigo desavisado que ousa em aparecer. Tudo cuidado, organizado, inserido e disposto. Tem sempre um vinho à espera de uma noite romântica, e um jogo de lençol lavado com amaciante para quem sabe uma noite de amor.


E você sobrevive; se desfaz de todas as ilusões de antes, se refaz com todas as esperanças do amanhã, e acredita que, mesmo que não seja agora, uma hora tudo se renova. Tudo entra em órbita, e uma nova chance acontece. E descobre um novo amor, dessa vez sem cobranças e ciúmes, que por necessidade de sobrevivência, você prefere lealdade a viver uma pseudo felicidade. E cura as feridas, liberta-se das prisões e medos, e se torna senhor do seu destino. Sem viver de aparências, sem indiretas, sem certezas. E com o coração pulsante, a mente tranquila, e a alma em paz.



Caruaru, 14 de Novembro de 2015.



Leniclécio Miguel